Ruidocracia

É sempre bom ver um neologismo seu se proliferar

ruidocracia
{estudo para o arcano XIII}
[1+12=13]Dentro da democracia dos signos não há espaço possível para o ruído, relegado à mera função de interferência ou adorno no paisagismo. Com isto sacrifica-se à margem qualquer possibilidade de sondagem profunda do ruir em si mesmo quando parte-se da linguagem.
[2+11=13]O signo do ruído é o cerne da tecnicologia dos dois extremos controles do demo(massa) aurais: No religar semiótico, permite aos ciclopes a contemplação da própria morte(XIII) ao mesmo tempo que os atira na surdez das iterações(progressões de redundâncias timbrísticas), eterno retorno da escala ao paraíso perdido da harmonia subjetiva(Ninguém me acertou). Já nas políticas simbólicas, gera os limiares das interações materiais dos objetos sonoros seja pela imanência heurística que transmuta o ruído novamente em sonema, como pela homeostasia dos sistemas musicais que imprime o foco tonal à redundância sonora de acordo com as dinâmicas entrópicas da rede.
[3+10=13]Podemos então falar de um ciclo de três modos de escuta do ruído dentro à natureza composicional, assim como podemos pensar um sentido como ruído(impregnação) do outro. Mas ainda, o multimídia quer estar em todas as modas ao mesmo tempo, para as dest'ruir.
[4+9=13]Ruído científico-profano: O ruído organizado como se observa no ícone matemático do ruido branco(white noise). O empalidecimento dos matizes cromáticos do barulho
gerado na síntese log arrítmica compõe a síntese dum espectro afetivo-racional. Os cães, como a estrela Sirius de Stockhausen vêem em preto e branco e ouvem melhor a síntese granular das altas freqüências que a pulsação esféride.
[5+8=13]Ruído sagrado: O índice dos silêncios potenciais, as paisagens sonoras em suas implosões de cores e sutileza de matizes. O templo é sagrado porque não está à venda para culto algum, o tempo é sagrado porque não pode ser cartografado. Color noises. João Jaula, procurando silêncios encontrou ruídos, buscando morangos achou cogumelos, buscando o tempo se deparou com a dança e a performance.
[6+7=13]Ruído comercial-laico: O barulho é o produto cultural ideal, pois não distingue a produtores e consumidores, mantém o trabalho da escuta no nível prototípico da soação sem perder nada da geometria tipológica da música. O que não é barulho brilhante no mercado cultural se restringe a interferência sistêmica(metaruído), mas sempre haverá um nicho de consumidores ávidos por turbilhões e é do mote fordista any color you lik
e as long as it's black que os sabbaths encontram seu caminho no seio da indústria da rebeldia. Black noise. Xenakis, o arquiteto busca ver com os sons pelo resto de sua vida o brilho da granada que lhe tomou um olho e um ouvido. A estocástica como religiosidade científica do ruído, a composição concreta dos desertos em rolos de memória. É noise na fita!
[0+13+0=13]O ideal de um mundo sem ruído político é alcançado pelo entranhamento de dois modos de conduta sonora: Uma codificação quântica em velocidades sempre acelerantes que prende os ouvidos pelas cadeias de Markov a uma certa faixa repertorial(as óperas de surdos-mudos da Cia. Invisível de Teatro Alchemico), ao mesmo tempo que uma exclusão pela inclusão como a observada no maximalismo academicista do fim de século. Este, pelo cálculo de todos os afetos musicais se nega a sentir as escutas que produzem seus sons(dir
eito autoral / dever atuante); se assemelhando assim com a irreversível entropia dos mercados de pasteurização fonográfica, que por excesso de redundância passaram a ser não mais que barulho para muitos.
[13+1=14]Laranja Eletrônica, os sonhos tangerinas dos rappers hackers acionistas de Beethoven nos templos do mantra de baixa tecnologia cruzam Dylan escarrando num intonarrumori: "Em direção ao abismo metálico entre os transistores e as cordas das guitarras... o ruído branco encontrará enfim o blues dos negros, as musascagam minérios em nós da névoa roxa antevista pelo terceiro ouvido de Hendrix ao roxo profundo das cabeças de máquinas... Nobody's gonna beat my car / It's gonna break the speed of sound / Oooh it's a killing machine / It's got everything."
[13+2=15]Sketch's Kitsch! A música como a melodia é em tempos de ostentação ruidística sempre meramente esboçada: ou sublimada pelo escárnio ou r
emixada pela obsolescência programada. Vês as rédeas que os produtores colocaram nas bandas pelas próprias bandas de freqüência? No futuro toda canção terá seus 15 segundos de barulho.
[13+3=16]O kitsch trabalha sempre sobre a ânsia de "querer parecer vanguarda" lembra Abraham Moles. O processo de sedução dupla da canção pop(por expansão novideira pseudocientífica e tradicionalismo hedonista pseudoreligioso) submergirá os famosos três acordes em camadas de atmosferas sonoras e hipnoses subliminares, do mesmo modo que engoliu a música geométrica pela ideologia significante(os violinos ao fundo do rap) e o transe mitológico pelo folclore(a onda de acústicos e a percussão maquínica).
[13+4=17]Pagu disse para Oswald: "A industrialização é, pois, por natureza, um desenvolvimento maternalístico". Quando toda a arte se sujeita ao desígnio do evolucionismo adaptativo dos modos de escuta estética o desáine se apresenta como padrão
de conduta ética do artista, que é reduzido a projetista de sensibilidades através de impulsos semânticos na vida pública privada. Aí, resta ao ruir artear.
[13+5=18]Canção, praça pública da música. Se podemos falar de democracia nos âmbitos do som seria, em termos tonais, o de uma arbitrariedade consentida de relações intervalares. Há caminhos sonoros que todos percorrem, há os cumes e cimos. Do metal ao doom há um duplo movimento de criação de uma micropolítica estética própria, ao mesmo tempo uma guturalização animalesca das macroestruturas industriais da forma-banda e uma complexificação das microestruturas digitais que almeja uma comedida máscara de desregramento. A corrupção se miniaturiza e toma entornos de uma opção estética, lógica da preferência tribal. Dietas das escalas pantone de ruído.
[13+6=19]A escultura ruidística como estilística do drone já tomou até mesmo as salas de dança com o Umwelt(Maguy Marin) mas ainda se mantém como linguagem de
resistência criativa à cultura capital nos undergrounds de todo o mundo. Merzbow pode bem ser colocado como o legado de Steve Reich e também como membro de uma guerrilha postgrindgore crystalpunk. Isto se dá porque o drone enquanto arquitetura fluida é a escolha pela especialização nas massas bonitas e sublime(imperativo estético legal kantiano), onde a formação sobrepassa a informação pela sua completa aceitação.
[13+7=20]O modelo dos carros muda, o som dos motores continua o mesmo. Enquanto você não parar seu carro não fale do meu drone, enquanto seu carburador queimar ossos não reclame de meu cigarro. Eis o ruído como nuvem de proteção radioativa, escudo eletromagnético da escuta nômade contra quaisquer arapucas de estilos. Bruito o retorno pós-apocalíptico à natureza da acusfera ionizada pelos impérios radiantes. Pitágoras a Orfeu no túmulo de Hermes: "Inaudivelmente alto, enternamente durante, longe alcançando", quando abre os olhos para ouvir a resposta vê Orfeu se afastando no horizonte cantando.
[13+8=21] Ao ruído nem som nem música resistem. À cibernética, rede
de volantes de volantes de redes de poderes, o carro serve de catedral barroca hipermoderna. Gonzalez me disse na lojinha de souvenirs da capela de ossos: "O modo diabólico está para o pós-moderno como a imagem do cristo para os barrocos". Na democracia dos signos, o ruído(e isto pode incluir tudo que soe de acordo com o desejo de escuta) é relegado ao âmbito de loucura, fazendo da própria escuta uma doença por envenamento(pharmakón).
[13+9=22] Devemos compreender que o registro direto do som é um fato novo na história do homem (a que os teosofistas nomeavam prisma das cores pela luz): data de pouco mais de meio século. Pensemos também no desenvolvimento dos processos audiovisuais(a harmonia sinestésica). Na época da reprodução da obra de arte(XV), torna-se obsoleta a idéia da arte desfrutada enquanto objeto raro e aparece a idéia da arte como contágio semiótico(Burroughs) A própria idéia da arte(III) é posta em questão. O que observamos em no
sso tempo é a explosão da informação sonora. A fartura(e miséria) do nosso tempo(ruídos inclusive) aumenta na medida mesma em que se difunde pela coletividade. A massa consome signos sonoros em massa. O modo tradicional de ouvir e compreender a música constitui uma pré-ordenação arcaica, com seus significados esclerosados, que não podem ser impostos ao grande público, pois a este o mundo industrial fornece tantos e tais meios de acesso e consumo do mundo sonoro, que ele próprio vai desenvolvendo sua capacidade de seleção e inteligibilidade. O que era qualidade se transforma em quantidade e é preciso encontrar os signos correspondentes a esta, para sua efetiva comunicação. O mundo das coisas vai-se dissolvendo e cedendo lugar ao mundo dos signos e da comunicação vital e vivencial. O mundo das coisas é feito de posse privada, o mundo dos signos, para a comunicação e a cultura pravida. Os objetos industriais(incluindo sua música), hoje, participam também da natureza da lingu
agem. O caos da informação sonora que nos aturde está a exigir uma ordem (não-definitiva - mas probabilística e mutável). Ordenar é selecionar e codificar. Codificar é transformar em signos - significar, tornar inteligível. Portanto, é comunicar. Aos trabalhadores do ruído, resta trabalhar dentro dos meios de comunicação de massa até que o sistema se transforme e seja absorvido. E ruir como imanência, ser o barulho de si mesmo no corpo coletivo. Zumbi indo!

Filosonia 0.2

Estarei observando o dia sem música por tantos motivos que não caberiam num box set de 48 cds com sinfonias e óperas compostas somente para isto.







O pensamento, esse soberano juiz do mundo,

traz ao homem sua mais plena dignidade.
Não é preciso o ruído de um canhão para impedir os seus pensamentos:
basta o ruído de um cata-vento ou de uma roldana.


Não vos espanteis se ele não raciocina bem agora;

uma mosca zumbe aos seus ouvidos:
é o bastante para torná-lo incapaz de conselho.


Se quereis que ele possa achar a verdade,

expulsai esse animal que põe sua razão em xeque
e perturba essa poderosa inteligência
que governa as cidades e os reinos.


Que deus divertido! O ridicolissimo heroé!

Blaise Pascal


Tornar as afecções(empathos: sympathos, antípathos) sensações(filia),
por cruzamentos no mar de memórias em sentimentos(feelings).
Em lógica, todo sentimento é uma patho-logia.
Paixão sonora.





O ruído eterno destes tempos implosivos me absurda.
Mas não será esta a desculpa para o autismo amplificado dos ipods.
Música, velocidade dos tempos. Alcançada principalmente através do som (peso do espaço no caos aéreo) entrecruzado pela luz, cor das ondas eletromagnéticas. Em silêncio, som sublima da matéria energia e condensa dinâmicas em estruturas geoônticas.
Corpó, escuta composição. Um diletantismo ativo, ou como riria o bombástico, um “atingir o intelecto através dos sentidos”.
Sofia é de escutas sinestésicas, enquanto Sonia fracta a luz compactando-a na tatonomia do au-dio. Tom, espera do silêncio.

Novalis cantou ao terminar de ouvir o velho: Quando dissemos algo abertamente, em verdade, nunca dissemos nada. Já quando recorremos às cifras e imagens velamos a verdade com o véu da beleza.” ... ... ... Síbila...
Música antecede a som como dança precede fala. Som sublima os corpos em energia através do ar(o que gesta a quimera pulmonar por vida e apodrece a carne morta) do mesmo modo que a luz dos campos eletromagnéticos através das cores musíca.

O compositor da operatotalis do burgo(Wagner o cibernético) se lembra de Fausto sobre o bêbado que gritava pedindo o fim do discurso e a entrada da bandinha no coreto(Beethoven, a escuta surda):
“Um supremo espetáculo!
Mas ainda, ai! Um espetáculo.
Onde findo-te, ó infinda Natureza?”

O rádio é uma substância eletromagnética implacável que avança irresistivelmente em todas as direções nas dimensões sonoras contra a qual toda resistência é inútil, logo artística. Seu uso pelas corporações humanas visa propagar pela informação a pandemia, submergindo-nos na quantidade sempre maior de produção cultural pela reprodutibilidade afetiva(cabendo lembrar que todo afeto após a psicanálise é senão uma técnica de pulsão desejante) transformando os limiares de cognições singulares, de modo que a música se tornou o desdobramento fractal do ruído, ruído entre ruídos. Melonoise.
{mas também sei que nenhum canto vale mais do que a vida...}
A rádio foi o pequeno riacho que moveu a compreensão musicante geométrica pré-industrial renascentista para a caosmose digital analógica por entre as margens das interfaces maquínicas (incluindo as abstratas) modernizantes que formam o contemporâneo limiar bauhaus-barroco (minimalismo-maximalismo, sempre intencionalistas).
“A natureza diferencia e copia, a arte copia e diferencia” Pascal
Outras cristalizações de transcópia, multifragmentação, até em última instância, a plena logaritmização do vão som-tom de onde captamos a música empírica, fizeram com que tal riacho espectral tornasse-se caudaloso e preenchesse de significados toda a gama coloral do mar do cinema(o átomo da composição digital é o quadro a quadro cinemagético), relegando a escuta ao narcisismo prostado diante deste como um lago de águas sujas paradas em estilos buscando por si mesma.
"Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto....."
Dois pontos que Foucault levanta são particularmente interessantes para nós. O primeiro é que ele opõe as heterotopias(acusmoses) explicitamente às utopias(silêncio e tom) e implicitamente às distopias(ruído), “posicionamentos que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia direta ou inversa”. Elas são “a própria sociedade aperfeiçoada” (ou piorada, no caso das distopias) ou “o inverso da sociedade”. Já com as heterotopias, percebe-se, que a relação com o suposto mundo real não é simétrica. Em vez de apenas amplificar ou reverter as representações que fazemos do mundo, a heterotopia desarticula seus elementos e os insere numa configuração totalmente nova. Fosse Foucault um alquimista diria que a heterotopia solve et coagula.
Eu falei “suposto mundo real”, e não foi por acaso. Porque o segundo traço das heterotopias, que nos conduz direto e reto de volta à metaficção sonora, é seu “papel de criar um campo de durações ilusórias que denuncia como mais ilusório ainda qualquer espaço real no devir entre cronos e aeon, todos os posicionamentos no interior dos quais a vida humana é compartimentalizada”.
Não se canta errado uma canção, se faz uma versão diversa do mesmo mito.
“Não apenas como os sons se compõem. Mas, mais difícil como percebemos este som em relação aos seus elementos contituintes?”
Como Berio disse de Stockhausen "Tapeceiro Sonoro" e de Cage "Tradução Musical do Jogo do Bingo", dir-se-ia de Boulez "Origami de Partituras".

Não apenas como as estruturas musicais se compõem. Mas, mais difícil ainda como percebemos esta música em relação ao seu contexto(seus silêncios)?
O maestro escuta com os dedos, prova disto são suas tentativas de agarrar o som com as mãos, ou ainda mais difícil, a música com a pele.
música: uma pulga metafísica atrás do som da orelha.
Da mesma forma que um som não existe sem todo o ruído que lhe é estranho, um músico sem toda a política da cidade(arquitetura musicante) dos sons não se manteria.
¡Cómo? ¿El oyente tiene pretensiones? ¿Las palabras deben ser entendidas?
O pós alfabético acena com o retorno do pulso nodal como ponto de apoio da linguagem no corpo, mímese morfopoética baseada não no talento mas no esforço e no trabalho:
“I know that I’m working very hard, as you are working very hard to know what I’m working on.” Xenakis sobre a performance musical de Bergson.
“Avalia o instrumento com seu corpo, incorpora a si as dimensões e direções, instala-se no órgão como nós nos instalamos em uma casa. O que ele aprende para cada tecla e para cada pedal não são posições no espaço objetivo e não é à sua memória que ele os confia. Entre a essência musical da peça, tal como ela está indicada na partitura, e a música que efetivamente ressoa em torno do órgão estabelece uma relação tão direta que o corpo do organista e o instrumento são apenas o lugar de passagem dessa relação.” Merleau Ponty incorporando Bach.
O silêncio é redondo mesmo, Bachelard. O som e os sonhos nos levariam aos delírios de audiomancia onde a pedra entra nos alhures do grão... Microtons ao fogo...
Os quatro modos de escuta de Pierre Schaeffer:
1.Écouter(Escutar): Disponibilizar o ouvido, interessar-se por. Foco dirigido ativamente a alguém ou a alguma coisa que me é descrita ou assinalada por um som. O naipe flamejante do desejo. A preaudição que estimula diretamente no instinto pelos neurotransmissores a uma prática musical.
2.Ouïr(Ouvir): Perceber pelo ouvido. Por oposição a escutar, que corresponde à atitude mais ativa, aquilo que ouço é aquilo que me é dado na percepção. As mirações vêm do som da floresta ecoando pra encontrar os corpos trespassados pelas raízes. A trompa d’água da prática sonora.
3.D´entendre(Dentretender): É o estágio da escuta no qual ocorrem as qualificações do ouvir, dependendo de uma intenção. Segundo Schaeffer, a origem etimológica da palavra aponta que entender é "ter uma ‘intenção’. Aquilo que entendo, aquilo que me é manifesto, é função dessa intenção." Escuta a melodia do vento. Escuta o ritmo das rajadas de vento. Escuta a harmonia espacial dos ventos criando turbilhões. Escuta a brisa que reverbera no espaço. “É preciso ser leve como uma andorinha, não como uma pluma.” – Valéry
4.Comprendre(Comprende): Realizado a partir da qualificação do entender ensimesmado, é o ato de perceber um sentido onde o som torna-se um signo que possui relações com um código cultural. O juízo dos estilos e a guerrilha aural da sociofonia e sonologia. O tremor e a sujeira da posse de um objeto pelo som, terra. Cuando Artaud habla de la erosión del pensamiento como de algo esencial y accidental a la vez, é como Diógenes o Cão lembrando que o som é a medida de todas as fraquezas humanas.

¡Cómo? ¿El oyente tiene pretensiones? ¿Las palabras deben ser entendidas? -Federico Nietzsche



A passada melodia entre astros não soa mais – disse a salamandra ao escaravelho.

A harmonia presenta o espaço polidimensional(polimorfias de polifonias).

Ritmo atira no arco gerúndio futurações.

Sobre a harmonia contextual:
1) a música é um fenômeno que envolve interação entre diferentes agentes para sua existência e desenvolvimento;
2) a significação musical é um caso particular de um processo geral de significação (assim como se pode estabelecer um contínuo entre os processos cognitivos e os processos naturais)
e
3) a cognição musical é um caso particular de uma descrição geral de cognição.




efemérides: uma vez potencializadas

as entranhas energéticas da noz,

que apodreças como o escaravelho
a germinar a voz

Gainza, que trata exatamente da descrição do processo de aprendizagem musical:
“La música, el ambiente sonoro – exterior al hombre – al entrar en contacto con las zonas receptivas de éste (sentidos, afectos, mente) tiende a penetrar e internalizarse, induciendo un mundo sonoro interno (reflejo directo o representación de aquel) que a su vez tendera naturalmente a proyectarse en forma de respuesta o de expresión musical."
Varela et al (1991) passam em revisão às três perspectivas da ciência cognitiva acerca da noção de cognição e de como ela ocorre. Para os autores, a versão cognitivista clássica, que se apóia em modelagens da inteligência artificial entende cognição como: Information processing as symbolic computation – rule-based manipulations of symbols. How does it work? Through any device that can support and manipulate discrete funcional elements – the symbols. The system interacts only with the form of the symbols (their physical attributes), not their meaning. The emergency of global states in a network of simple components. How does it work? Through local rules for individual operation and rules for changes in the connectivity among the elements.

"Pratica a Música Sócrates! A flauta vertebrada é o canto do cisne morto no ballet..."
Representations create understanding and desire.
A essência da música não consiste apenas em agradar os ouvidos, mas também em enganá-los. Seria preciso uma grande arte para não imitar o pássaro, mas cantar como ele.

“-Críton, não esqueçai de levar um galo a Esculápio!”
A prova(ensaio) de Nino Taro lembra que a sinfonia é a sintonia com a qual sonhava Ford na sua ditadura temporal, a sincronia dos planos na linha de montagem.
O computador é o instrumento que mais se assemelha à voz humana. Criptografa na própria carne(silíncio) os caminhos metálicos da eletricidade, criptofona.

Trapdoor paradox is the most simple type of computer virus
abre uma porta que abre uma porta que abre...
o fenômeno coquetel, onde
em meio a um espaço ruidístico
estrutura-se um território harmônico
onde se deslindam as vozes
do coro ao solo, o foco aural.

as mirações vêm do som da floresta ecoando pra encontrar os corpos trespassados pelas raízes, a cidade tem som de ruminar de engrenagens em combustão, que nos chega?
“A guerra deve ser em função da paz
A atividade em função do ócio
As coisas necessárias em função das belas”
- Aristóteles e a escuta pelo silêncio.

Se Sócrates percebia que o texto escrito nos faria perder a memória, Platão já concebia a caverna-cinema nos despojando da imagem-pensamento em nome de fluxo ainda mais rápido. A gravação sonora nos ensurdecerá da música deixando as escuta nos limites de ruído e silêncio. No futuro toda canção pop terá seus quinze segundos de ruído e seu 1.5 decibéis de composição subliminar.
“Descansar? Descansar de quê? Quando quero descansar eu viajo e toco pianos.” O urbanismo dos dados quer gestar uma arquitetura para os afetos através de um sistema iterativo de paisagens de dados... A iteração é também o sistema de busca nos bancos de dados. Se você gosta de Coleman, provavelmente te contarei sobre Roach, mas menos de Pärt?
"Cada palavra falada nos trai. A única comunicação tolerável é a palavra escrita, porque não é uma pedra em uma ponte entre almas, mas um raio de uma luz entre astros." - Fernando Pessoa
Tacitlo Oswald lentamente mastigava olhando os vinis. Mariô os dera, quatro baladas de chopin e o trio em lá menor de tchaikowsky, dizendo:
Nem mesmo nossos breves momentos de revolta escapam ao fascínio da imagem... - tomou fôlego no café e continuou - ... um sentimento de excrecência, tudo o que invizível e indizível afastou-se de nós... a falta, o enigma, o campo simbólico, que são exatamente as condições do pensamento. A sociedade espetacular(a cultura artística) não reprime o pensamento, torna-o dispensável; a exclusão dessa condição essencial da subjetividade deixa-nos desamparados no caos simbólico(a chuva em Mautner) desgarrados de uma dimensão essencial de nós mesmos. Tal sensação limítrofe da ultrapassagem do cognescido levou os grupos humanos todos a inventarem seus mitos, de modo que sejam dotadas de sentido as novas formas de ordem social. Ocorre que nossos mitos hoje são produzidos industrialmente, ou hiperindustrialmente.

A cultura deixou de ser a referência da alteridade para tornar-se espelho do que nos é mais íntimo e familiar, só que tal familiaridade nos vem de fora da subjetividade. No Palácio da Música, caminhando nos porões com Pitágoras, Cartola ri.
Beethoven tomando um mé no jardim com Bartók escuta um tremor que o amigo cantarola fazendo da traquéia cello, Stratos e Gonzaga riem histrionicamente. Caberia lembrar que museu era o nome da prisão que construira Hefaísto para as musas.

Laranja eletrônica, hackers acionistas de Amadeus transmutam a melodia(operacracking) em tempos de rúido ao escárnio kitsch da obsolescência programada destas em mero ruído social. Logo mais as bandas de rock serão tidas ou como ONGs de serviço público de catárse ou como jogos de videogueime.
Sobre a Apassionatta disse Lênin: “Se eu a continuar ouvindo não levarei a cabo a revolução”
Precisamos construir salas de ruídos, como em outros tempos houve a necessidade de construirem câmaras anecóicas que enfeitassem de bossa a oca fadada ao "nova noise" e salas de concerto onde se alimentava o olvidar das forças da natureza.
O espetáculo alimenta-se das intensidades(ouça gore doom e speed metal) a violência não lhe é hostil nem estranha. Ao contrário a violência("sete mil poetas sádicos nas sarjetas") é o combustível e a cocaína que abastecem o showbusiness, por isto os EspectaDores estão cada vez mais adaptados a ela.
This {uma química das cores não bastaria para os oceanos superhélios} is our Cage.
Só as mercadorias, em sua juventude renovada protegem o consumidor da velhice, da caduquice, da insignificância , do esquecimento outorgado a nós pelas dimensões.
Um site 2.0 gera um banco de cultura com produtos poéticos que valem moeda artística numa economia subjetiva em limiar de overdose.

Com uma desvinculação do valor de mercado da música temos uma mais valia do processo sobre o objeto artístico.
A massa desmassificante dos patchworks(a pureza dos dados) compõe na miniaturização dos gestos atuantes a programassom ambiental no cerne da figura do compositor, feito campo satélite de uma acusfera possível.

“Quem quiser se prestar a compreender o mundo deve saber ao menos uma linguagem de programação” Z Hegedus
De modo a explicar a necessidade de superação da precisão industrial por um ócio criativo, De Masi diz: “A eternidade surge na cidade de Belém, o berço famoso das primeiras covas e liras, como consolação à morte assim como a arte só deixou marcas de seu nascimento fisicamente num ornato a uma flecha(que mira a beleza?)..."
Quando em maior perigo, Ulisses se amarrou às sereias pra não ouvir o mastro... à luz sê nó, gêneo.
As ondas sociais que Toffler ressalta são a senoidal espiral de Quetzacoatl como a frequência do Leviatã, o pulso nodal. Tal música transfigurada em ruído das séries aurais demanda o anonimato em nome da subjetividade coletiva(micropoder da ruidocracia), sem que se distingam o começo de uma ou o fim da outra nesta trilha sonora, pois é no campo filosônico entre música e som que jaz o inefável para ambas e para nós: o silêncio que desistimos de ouvir.
“Faltam pessoas que realizem o silêncio,
aquilo que não tem futuro.”


Transtorno Kitsch Cibernético

I. Harmonias inconscientes:

Os cerca de trinta mil tatos das membranas basilares, estes osciladores de aproximadamente 35mm, respondem ao impacto de uma estreita banda freqüencial das ondas sonoras, e de acordo com sua posição em relação aos nervos auditórios vertem as freqüências e fases sonoras em impulsos elétricos. A quimera tácita demandaria a fixidez deste ínfimo movimento . Apesar do alcance de captação plena e constante da faixa vibrante entre +/-20 a 20,000Hz, trabalhamos com uma dilatação e retração do foco consciente auditivo muito variável, fora do qual ocorrem as micro e macro harmonias inconscientes.
Os ritmos elétricos dos neurotransmissores cerebrais, cocientes de todas as freqüências que cruzam o corpo, sintetizam-se entre +/-1 a 30Hz podendo ser descritos como o metainfrassom da mente. Os sentimentos, mapeamentos cerebrais do corpo em relações específicas, desvela à faculdade musical no seu sentimentalizar do som, estabelecimento de rotas dos ruídos do, e no, corpóreo .
Os organismos harmonizam suas orquestras homeostáticas através destes impulsos elétricos que variam sua sinfonia de acordo com as necessidades do corpo na sua incessante busca por equilíbrio e bem-estar. Seu funcionamento varia desde o mais lento possível como na faixa +/-(Delta ~ 1 a 4Hz)  que possibilita o desprendimento egóico para as regulações do metabolismo, das respostas imunitárias e dos reflexos básicos realizadas somente no sono profundo (REM); passando às ondas +/-(Theta ~ 4 a 8Hz) que regularizam os comportamentos de dor e prazer e com isso os alicerces das emoções como nos estados de transe, anestesia e relaxamento; chegando à gama consciente +/-(Alpha  ~ 8 a 12Hz) onde se recompõem os recursos minerais e se ampliam as sensibilidades nervosas e a velocidade de conexões sinápticas, e acelerando-a até o estado +/-(Beta ~ 16 a 24Hz) de alerta, concentração e aceleração do metabolismo através da queima adicional de adrenalina e proteínas .
Estes estados coexistem aparalelamente no organismo que as focaliza de acordo com suas necessidades moleculares, fuga da dor e busca do prazer, que alicerceiam a cristalização de certos hábitos na programação neurolinguística .
O planeta sobre o qual musicamos também ressoa em sua ionosfera durante seus movimentos de rotação e translação. As reverberações das suas instabilidades ondulares, reflexos das relações de forças entre toda a complexidade harmônica de sons nela presentes e os demais corpos celestes, variantes entre 8 a 45Hz . Terra e Humanos são organismos em uma relação que a harmonia clássica estabeleceria como dissonância dominante  e trabalham, não coincidentemente, em grande parte na mesma faixa de freqüência.
A concha e o das dasein est rondo, o corpo é a casa é o mundo . Tudo se ativa quando se acumulam contradições, a ciranda do boi é o labirinto do minotauro. À jam se comunica como nos conscertos ante às partitas, às energias que reverberam as próprias estruturas de um corpoambiente. Fazer o magnetismo dos falantes e metais estruturais reencontrarem suas ancestralidades na terra, subjetivar os objetos. Todas as tecnologias não são mais que um mito , e nisto um libretto seria escrito ad infinitum .
O som de um ambiente reverberado nele mesmo nos joga no paralaxx, onde as infinitas particularidades dos corpos entre a certeza da morte e a impossibilidade do silêncio se interprenetam Liberando o ato na probabilidade, randomização e improviso com os elementos previamente ensaiados pelos performantes ao mesmo tempo que liberando o som do texto  imanente pelo freqüencismo coloral, criando massas estocásticas,  nuvens, galáxias, campos harmônicos afectivos de multipolaridades atonais, tonais e modais; desvirtuando o caráter absoluto das estruturas cromáticas transitando entre hiperserialismos e minimalismos frequenciais.
As posteriores concordâncias entre as diversas faculdades se relacionam com a harmonia entre os dados dos sentidos aí dispostas, e estas nunca eternas, abismam entre coerência e crença  trazendo à tona a impossibilidade das esferas no fenômeno. A mente frente à beleza incompreensível de si mesma, feita círculo pluridimensional, torno de tornos da lama lógos, encontra o seu limite no saber-se impotente e pode então no des-esperar dançagir , manejar a rede de lemes de redes, cibernética.


 II. Corprótesespaço, dança das esferas:

A presença em movimento do corpo parte das redes de interlocução possíveis entre espaço construído, público e objetos (aparatos e próteses). Não há a possibilidade de que a dança seja elaborada dissociadamente de toda a composição maquínica e das engrenagens potencializadoras das relações entre espaço e corpo em desdobramento. 
Se direcionamos o corpo a uma dança esférica, isto consiste muito mais nos mecanismos de um enredamento noosférico do que nas imagens que giram em uma mimética do círculo . Hipnotizadores e hipnotizáveis através da constante ou fragmentada aparição da gira , os corpos experimentam um transtorno, mas mais do que isso, suas potências conströem a dança no encontro de um corpoespaço.
É nesse caminho que o pensamento corpo segue. Como fazer parte de um mesmo ambiente que outros corpos e no mesmo dissociar-se, desmembrar-se identificando-se da e na multidão ?
O bailarino desloca-se no espaço como portador do ambiente que o circunda. Desloca o som e é deslocado por ele, comportando no corpo a memória sonora impressa na subjetividade ao longo de sua história. As próteses falantes são esse mecanismo do corpo evidenciado, como uma literalização dos sentidos, um extrovertimento das memórias sensoriais.
A prótese se relaciona com o bailarino como o bailarino se relaciona com o ambiente, dança nele. O corpo, então, não é mais ele mesmo , não se resume ao visível e palpável, não se delimita mais no próprio contorno .
Em um mundo de exaltação e esgotamento informacional, os sentidos passam de instrumento de re-conhecimento do próprio corpo no ambiente a um mecanismo estanque de identificações pré-estabelecidas a estímulos absolutamente partiturizados. Deixamos morrer seu frescor de sensação primeira , desapropriamos por completo a possibilidade de sentir em sua totalidade. O corpo carrega os sentidos como apêndices de sua própria carne, amortece seus fluxos em uma tentativa de não mais responder aos estímulos de um ambiente exaurido.
Projeções do porvir, nossas idéias diante do perceptível não se configuram mais como arquiteturas ou estratégias nossas, mas como uma computação funcional constante do confluir com o mundo.
Se por um lado esse confluir libera o si como abertura de possibilidades em um ambiente de riqueza informacional, este pensar e agir de acordo com o rebanho, trama influências ao corpo, prendendo-o e isolando-o da possibilidade de criar suas próprias nomenclaturas, marginalizando seus desejos e emoções, coibindo sua interação sensitiva com o mundo. Nos prendemos crendo já saber a gama de possiblidades reativas possíveis dos sentidos, nomeamos antes de termos sentido. Carregamos no próprio corpo, próteses invisíveis, livros de receitas aos sentidos e às interações com o mundo.
Nos apropriamos do pensamento alheio, mimetizamos as ações que nos cruzam apenas sem nos (re)configurarmos a todo momento a partir do encontro com o outro. 
Quando não roubamos mais nada do outro é porque aquilo que ele nos apresenta já é parte de nós mesmos, e a  paleta interativa se mostra não mais que o senso-comum. Troca e relação cedem a economia e alienismo confluindo na inércia e amortecimento dos sentidos, a pseudointeração individualizante do virtual.
Ressaltar estes transtornos entre corpos físicos e abstratos que trespassam a subjetividade aproxima-nos do som (a sensibilidade da duração de que dispomos, além das memórias: imagens-tempos entrelaçadas a um espaço eterno subtraído pelo foco). Um corpo enquanto ambiente ou espaço de si mesmo reconfigura suas percepções no confluir com outros sistemas. Criando um terceiro corpo que não o próprio ou a prótese mas a imanência da relação, aprofundamo-nos na pausa para as percepções primeiras, um silenciar dos motores inertes e capturados nas reações pré-estabelecidas pelo aparelho habitualizante. Re-vestir  o próprio corpo , reconhecer-se construído além do eu e observar o outro que imageticamente pode se deflagrar em uma mesma situação, mas que comporta em sua experiência o absurdo da identidade no encontro mediado pelo maquínico. 
A relação meramente funcional  entre homem e máquina levada a seu extremo, um corpo que aciona a prótese e é acionado por ela, exaure as possibilidades de interação corporal e torna-o capturável pelas regras que acompanham tais mecanismos, o kitsch .



III. Inconscientes harmônicos:
Os sons que nos precedem à existência e ainda estão por cessar são indissociáveis da nossa utopia sentimental do silêncio: são a substância, a emoção de fundo, de nossas arbitrariedades harmônicas.
Através da musicæ , tentativa de apaziguar o tormento deste ouvir transconsciente à demasiado complexa harmonia do mundo, reduz-se o foco auditivo a um espectro compreensível, e preferivelmente confortável, das faculdades neuropsicológicas do ouvintecompositor. Esta relação ambígua da estética enquanto a ordenação da complexidade , permite-nos tanto experimentar às transformações da audição orbitando ao ideal simétrico sob a gravidade sensível-racional do corpo quanto encurralar no ângulo fechado dos cantos entre melodia, cortimbre, ritmo e harmonia as infinitesimais arestas das freqüências de nossa esférica escuta .
Deixamos que esta segunda imagem de harmonia reverberasse em todas nossas relações com o musical dividindo os gestos de intuição-criação das de representação em palcos tridimensionais e interpretação padronizada de instrumentos padrão, para encaixar o movimento no espaço, partituramos. Por querermos controlar o belo e o sublime acabamos por destruí-los .
Sustentando este grande musical espetáculo da institucionalização da intuição, o som comprimido em três dimensões serve de massa para as arquiteturizações pseudobarrocas de escadarias ascé(p)ticas de compositores feitos ícones da seriedade sacra deste ofício. O músico reduzido a ator de música  advoga seu conhecimento da lei de seu instrumento masturbador, e virtuose que é, com o que resta do lúdico dado ao erro, toreia o ruir sob o véu-técnica e este sistema especialista veste seu ídolo.
As disciplinas formais dos estilos, frente às quais se prostram estes tardios intérpretes copistas, mascaram na logomítica marcha storia-scientia  suas para-doxas religiosas de retroalimentação entre o paraíso perdido da forma e a esperança no juízo final, confortando as estreitezas dimensionais  de nosso espectro de sensibilidade na linearidade do progresso, para enfim, na nostalgia do presente fazer da própria existência ensaio  de seu produto gregário, a obra . Reduzidas as músicas assim a A Música, objeto de consumação: repetição dos resultados certeiros em lugar dos processos de devaneio através das impossibilidades das certezas. Eficácia plena da gestão sócio-econômica do gozo fetichizado em um refinamento cultural . A música tal qual o corpo, porém, é algo para muito além do prazer .
O que toca o humano ao tempo segue em cânone contra as barreiras culturais que almejam ao estético estático. Entre ambos, fugas dos ouvires na contínua instabilidade do saber-poder, as ondas das modas entrelaçam as harmonias das eras. O estudo harmônico para chegar aos axiomas da mathesis isolava a música numa audição idealista. Relevando como ruído, a relação entre as incontáveis faculdades  da ecologia cognitiva de um ouvintecompositor, e ainda o vão-elo entre diversas subjetividades, estes inconscientes harmônicos. As artes, estes organismos vivos evoluindo a uma velocidade estonteante entre nós, meros hospedeiros , seguem porém se destruindo e unindo mutuamente em busca de uma harmonia contemporânea .
A crítica à teoria das esferas  através dos limites epistemológicos feita pelo sintetista logoi technai deixa saltar aos ouvidos o religare entre crença e ciência no tetratkys . Nossas concepções harmônicas surgem das consonâncias e dissonâncias para com os sons inconscientes, não o contrário, como se as estrelas seguissem o princípio da humana música. Esta assunção verídica, porém, é senão uma arma numa velada disputa entre dois métodos de cerceamento das possibilidades auditivas pelo controle na antropomorfose do sonoro. Qual prisão seria a mais adequada para a intuição musical, o número ou a palavra? O cantochão balbuciaria, os cantos gregorianos sussurrariam e a sinfonia em fortíssimo clarearia: ambos! O inegável triunfo da ópera e da canção  estão intimamente ligados à necessidade desta criação de uma audição dócil , conforme com a lei dos números, desta agricultura dos nômades sons, literaturização do gado ouvinte humano . Neste sentido, o jazz foi de fato, como querem alguns , a continuação da música eruditista européia, nela somando através da imagética de emancipação não mais que o cálculo rítmico enquanto variável das sonatas modernistas.
O ideal da (de)composição moderna  desemboca nas experiências limítrofes da dialestética sonora do século XX  iniciando a transmediação do texto e seu contexto na formação de texturas . Que sons queremos que nos vistam? Como liberar as artes übermensch de nós? Passos primeiros duma nova estruturação das sempre crescentes dimensões da existência humana, este eterno retorno ao equilíbrio entre o caos do ouvir ao ruído-mundo e a necessidade da ordenação cristã dos rebanhos de mercados musicais, passam pela reinvenção do músico de papel  enquanto xamã  do ritual-jogo do ócio, imanência do maestro , carcereiro panóptico e metrônomo intensivo; em busca de um renascimento da música no espírito da filosofia trágica.